A nossa revista virtual trata de vários assuntos, promovendo uma viagem no tempo para quem a lê. Os temas abordados com a finalidade de entendermos melhor a história da vida moderna foram selecionados a partir do período entre as guerras mundias até a descolonização da África e da Ásia. Podemos, desse modo, saber mais sobre o desenvolvimento da história em vários continentes.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Descolonização da África e da Ásia

As grandes potências européias do século XIX, sobretudo a Inglaterra e a França, formaram grandes impérios, que abrangiam terras e povos na África, Ásia e na Oceania. Os europeus não respeitavam as culturas nem as divisões geográficas das áreas dominadas por eles. Desrespeitaram civilizações antigas, exploraram as riquezas dessas regiões e submeteram seus povos à dominação desumana brutalmente.
Entretanto, nos 35 anos após o final da Segunda Guerra Mundial, a maioria dos países africanos, asiáticos e da Oceania conseguiu a sua independência. Esse processo histórico foi chamado descolonização. Dos fatores que favoreceram a conquista da autonomia desses países podemos citar:

>A luta dos povos ativos contra os dominadores europeus. Muitas foram iniciadas muito antes da 2ª Guerra Mundial;
>O enfraquecimento político e econômico das potências imperialistas européias devido aos prejuízos com a Segunda Guerra Mundial e períodos sucessivos de crise: Primeira Guerra Mundial, Revolução Russa e Grande Depressão;
>O apoio que os movimentos de libertação da Ásia e da África receberam dos Estados Unidos e da União Soviética. Os EUA queriam combater a expansão comunista, enquanto a URSS acusava o colonialismo de ser o produto do capitalismo, seu maior rival. Além disso, ambas potências buscavam áreas de influência, pois pontos estratégicos para escalas de viagens marítimas e aéreas, para a instalação de bases militares, e realização de estudos científicos e testes nucleares atraiam o interesse dos países no contexto da Guerra Fria;
>Idéias de base religiosa (budismo e islamismo na Ásia) e política (pan-africanismo na África e idéias socialistas nos dois continentes). O pan-africanismo, cujo ideal foi proposto por Jomo Kennyata, defendia a união e a independência de todos os povos africanos. Além disso, algumas idéias socialistas pregavam o direito dos povos colonizados à autodeterminação;
>A solidariedade dos países recém-libertos para com as lutas pela independência de territórios ainda sob domínio colonial. Exemplo disso foi a Conferência de Bandung na Indonésia em 1955.

O processo de descolonização nos vários países foi marcado pela violência. Algumas potências européias procuraram negociar uma nova relação com suas colônias para garantir a sobrevivência de seus empreendimentos econômicos. Reformas cujo objetivo era a concessão de uma independência lenta e gradual para as colônias foram instaladas, mas revoltas acabaram ocorrendo antes da concessão da independência. Exemplos desses acordos entre colonizadores e colonizados ocorreram em várias áreas de domínio francês e inglês. Na maioria desses casos as fronteiras determinadas pelos dominadores europeus em função de seus interesses foram mantidas, o que explica o fato de membros de uma mesma etnia ficarem separados por vários países e de membros de etnias diferentes continuarem a conviver em um mesmo território. Também é por isso que as línguas nacionais adotadas nesses países foram as dos respectivos colonizadores, já que não havia uma língua comum aos diferentes povos reunidos num mesmo país.Outras áreas africanas e asiáticas, só alcançaram sua autonomia depois de violentas guerras civis e lutas mais a fim de expulsar os dominadores do território. Exemplos disso ocorreram na Indochina (formou os países Vietnã, Camboja e Laos), Indonésia, Índia(mesmo com o movimento de resistência pacífica de Mahatma Gandhi)...




Mapa que mostra a época em que os países conquistaram sua independência.

Na descolonização da África algumas coisas mudaram e outras permaneceram:


Independência da Índia

A resistência dos indianos contra o domínio inglês era antiga, Mas depois da Primeira Guerra Mundial essas lutas ganharam fôlego e direção. Durante essa guerra, a Inglaterra pediu à Índia matérias-primas e soldados e, em troca, prometeu maior autonomia administrativa aos hindus. Os hindus aceitaram e cumpriram sua parte; a Coroa Britânica não.
A decepção com os ingleses, o desemprego nas cidades e a existência de milhões de camponeses sem terra facilitaram a penetração das idéias de Gandhi, o principal líder da luta pela independência na Índia.
Para combater a dominação britânica, Gandhi propunha a resistência pacífica por meio de uma solução original: a desobediência civil. Ou seja, recomendava aos indianos que não pagassem impostos e não comprassem produtos ingleses e também desobedecessem às leis que os discriminavam dentro de sua própria terra. O objetivo era não cooperar com os colonizadores, isolando-os e enfraquecendo-os.
O principal partido de oposição ao domínio inglês na Índia era o Partido do Congresso, fundado no final do século XIX e liderado por Gandhi e Nehru. Os muçulmanos (24% da população da Índia na época) eram liderados por Mohammed Ali Jinnah. Esses três líderes defendiam a não-colaboração com o colonizador inglês.
Quando a Segunda Guerra Mundial explodiu, os indianos negaram-se a participar dela. Com o fim da guerra aumentaram os movimentos populares pela independência. Agravou-se também o conflito entre hindus e muçulmanos, que propunham a formação de um Estado separado da Índia.
Pressionado pelos indianos e desgastado pelo conflito contra o nazismo, o governo inglês reconheceu a independência da região. Pela Lei da Independência, aprovada em 15 de agosto de 1947, o território da Índia ficava dividido em dois países: República da Índia, de maioria hindu, e República do Paquistão (Oriental e Ocidental), de maioria muçulmana. Em 1971, o Paquistão Oriental constituiu um país separado, Bangladesh.

Mapa da descolonização da colônia inglesa. Formaram-se três países: Índia, Paquistão e Bangladesh.

Obs.:É importante destacar que embora Gandhi pregasse a não-violência, a Inglaterra reagiu violentamente, havendo, portanto, mortes e brutalidade.

Conferência de Bandung

Entre 18 e 24 de Abril de 1955, reuniram-se na Conferência de Bandung, na Indonésia, os líderes de vinte e nove Estados em sua maioria asiáticos e africanos, dentre eles: Afeganistão, Arábia Saudita, Birmânia, Camboja, Laos, Líbano, Ceilão, República Popular da China, Filipinas, Japão, Índia, Paquistão, Turquia, Síria, Israel, República Democrática do Vietnã, Irã, Iraque, Vietnã do Sul, Nepal, Iêmen do Norte, Etiópia, Líbia, Libéria e Egito... O objetivo era a promoção da cooperação econômica e cultural afro-asiática como forma de oposição ao que era considerado colonialismo ou neocolonialismo dos Estados Unidos da América, da União Soviética ou de outra nação considerada imperialista.
Foi a primeira conferência a falar e a afirmar que o imperialismo e o racismo são crimes. Falaram também sobre as Responsabilidades dos Países Imperialistas, que existem até hoje. Responsabilidade que significa ajuda para reconstruir os estragos que eles fizeram no passado. Os países que participaram da Conferência deram a si próprios o nome de Terceiro Mundo, declararam-se não-alinhados, ou seja, neutros na Guerra Fria entre EUA e URSS e comprometeram-se a apoiar as independências de outros povos da África, Ásia e Oceania.
Nessa Conferência foram estabelecidos 10 Princípios.

Os Dez Princípios da Conferência de Bandung
1.Respeito aos direitos fundamentais, de acordo com a Carta da ONU.
2.Respeito à soberania e integridade territorial de todas as nações.
3.Reconhecimento da igualdade de todas as raças e nações, grandes e pequenas.
4.Não-intervenção e não-ingerência nos assuntos internos de outro país (Autodeterminação dos povos).
5.Respeito pelo direito de cada nação defender-se, individual e coletivamente, de acordo com a Carta da ONU.
6.Recusa na participação dos preparativos da defesa coletiva destinada a servir aos interesses particulares das superpotências.
7.Abstenção de todo ato ou ameaça de agressão, ou do emprego da força, contra a integridade territorial ou a independência política de outro país.
8.Solução de todos os conflitos internacionais por meios pacíficos (negociações e conciliações, arbitragens por tribunais internacionais), de acordo com a Carta da ONU.
9.Estímulo aos interesses mútuos de cooperação. Respeito pela justiça e obrigações internacionais.
10.Respeito pela justiça e obrigações internacionais.

Três líderes dos países participantes da Conferência de Bandung: Jawaharial Nehru, Gamal Abdel Nasser, Josip Broz Tito da esquerda para a direita.